Startup testa nova tecnologia para combater dengue

Tecnologia que pode prever os locais onde haverá incidência


Startup testa nova tecnologia para combater dengue

Tecnologia que pode prever os locais onde haverá incidência da doença chega ao Brasil em janeiro

Entre janeiro e maio, o Brasil enfrenta o período do ano com maior incidência de casos de dengue. Agora, a preocupação das autoridades de saúde é ainda maior já que o mosquito 'Aedes aegypti' também carrega o vírus que causa as doenças chikungunya e zika. Enquanto não há vacina ou tratamento específico, a prevenção é feita por meio do combate ao mosquito. 

Neste ano, uma nova tecnologia importada da Malásia poderá ajudar nessa difícil tarefa. Trata-se de um algoritmo baseado em inteligência artificial desenvolvido pela startup Aime. Ele é capaz de prever, com até três meses de antecedência, os locais onde haverá maior incidência da doença. A nova tecnologia começa a ser testada em janeiro pelo governo do Estado de São Paulo.

A startup foi escolhida para o projeto por meio do programa Pitch Gov que selecionou, em novembro, 15 startups com ideias para melhorar serviços públicos. Através de um convênio, o governo vai testar a nova tecnologia e, se ela ajudar no combate ao mosquito da dengue nos próximos meses, a Aime poderá ser contratada. A Aime (Inteligência Artificial em Epidemiologia Médica, na sigla em inglês) nasceu no início deste ano, durante o curso de inovação da Singularity University, universidade localizada dentro do câmpus da Nasa, no Vale do Silício.

Em visita ao câmpus, a ONG Viva Rio fez uma parceria com a startup para colocar a solução em prática no Brasil. "A Aime vem com a tecnologia e a gente com a operação de campo para gerar o impacto social", diz o coordenador de inovação da Viva Rio, Francisco Araújo. Será a primeira vez que a Aime vai aplicar sua tecnologia fora da Malásia. Nos testes realizados em duas províncias do país, o sistema conseguiu prever corretamente 88% dos locais onde a doença se manifestou. Para que a tecnologia funcione por aqui, a startup teve de ajustar seu algoritmo aos dados brasileiros. Para isso, os fundadores passaram três semanas no Rio de Janeiro para levantar as informações necessárias em conjunto com a Viva Rio. O algoritmo analisa dados que já são coletados pelo governo local e por sistemas de reconhecimento de imagens de satélite, o que permite que a tecnologia seja empregada em qualquer cidade a um custo baixo. No Rio de Janeiro, a equipe da startup testou o sistema usando dados da prefeitura relativos ao período entre 2007 a 2013. Por meio do aprendizado de máquina, o algoritmo identificou padrões entre as variáveis e localizou os focos doença em cada ano. Após compreender as correlações, o sistema gera um mapa com as previsões de foco de dengue, que podem ser comparadas com as ocorrências registradas por região. Segundo o epidemiologista malaio e fundador da startup, Dhesi Raja, não foram necessárias muitas alterações no programa, porque o clima e ecossistema do Brasil são similares aos da Malásia. "No começo achamos que seria difícil, mas a experiência no Brasil foi maravilhosa, porque alcançamos uma precisão de 84% no diagnóstico", diz. O algoritmo analisou dados de uma região de 63,7 quilômetros quadrados, onde foi registrado o maior número de casos de dengue neste ano no Rio de Janeiro.Variáveis Para chegar a este resultado, é preciso analisar grandes conjuntos de dados. O programa leva em conta tudo que influencia o voo do mosquito, como clima, velocidade e direção do vento, radiação e índice de chuvas. Outros fatores têm uma relação mais direta com a reprodução do mosquito, como a proximidade de lagoas, bosques, obras e locais de acúmulo de água limpa e parada. Para transmitir a dengue, o Aedes aegypti precisa picar uma pessoa infectada pelo vírus, por isso o software também analisa o histórico de saúde das pessoas que vivem na região, densidade demográfica e até a faixa de renda da população. No mapa, o sistema aponta os potenciais focos da doença e um raio de 400 metros em torno deles, onde há uma probabilidade de 65% do surgimento de casos de dengue - o tamanho da área considerada segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na prática, a definição das áreas de risco permite o uso mais eficaz de mecanismos de combate à dengue, como larvicidas, "fumacê" e mosquitos geneticamente modificados. Atualmente, o Ministério da Saúde não tem um método preciso para identificar regiões onde o mosquito vai se proliferar. O Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), divulgado pelo órgão em novembro, revelou que 199 municípios brasileiros estão em situação de risco de surto de dengue, chikungunya e zika. Em 2015, o número de pessoas infectadas por dengue aumentou 176% em relação ao ano passado, alcançando 1,5 milhão de casos registrados. O objetivo da Aime e da Viva Rio é prestar para governos uma espécie de consultoria de prevenção de epidemias. A partir do diagnóstico do algoritmo, a startup ajuda a traçar estratégias para resolver o problema em parceria com autoridades públicas de saúde. Além de São Paulo, há a expectativa de que a cidade do Rio também adote a nova tecnologia por conta da proximidade do início dos Jogos Olímpicos de 2016. Por enquanto, o algoritmo só identifica focos de dengue, que segundo a OMS coloca em risco a saúde de cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo todo. Segundo a Aime, porém, a tecnologia pode ser ajustada em breve para prever casos de chikungunya e zika. No futuro, o objetivo é ir ainda mais longe e aprimorar a tecnologia para prever surtos de tuberculose, malária, ebola, gripe e até mesmo Aids. "Nosso objetivo é ser o Google da prevenção de doenças infecciosas", diz Raja.

Fonte: http://revistapegn.globo.com/Startups/noticia/2015/12/startup-testa-nova-tecnologia-para-combater-dengue.html

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